Saturday, June 28, 2003

Televisão Pública – Resenha Histórica


A discussão em torno da televisão pública é fundamental para definirmos o modelo de televisão que estamos dispostos a pagar com o dinheiro dos nossos impostos.

A evolução da televisão em Portugal é um fenómeno interessante.

No inicio a televisão era uma tecnologia apenas acessivel às classes económicamente mais abastadas por razões perfeitamente compreensiveis: os aparelhos eram caros para o nivel de vida do português médio e a rádio era, à altura, o meio de comunicação de acesso geral.

A programação reflectia o público a que se destinava, bem como a ideologia do regime e poderes vigentes. No entanto podemos encontrar na televisão desses tempos, uma preocupação com qualidade e profundidade de conteúdo que é independente da distorção ideológica que lhe era imposta.

Hoje é impensavel ver programas como os de Nemésio nas televisões nacionais.

A RTP criou dois canais acentuando claramente uma diferença de audiências, com um foco de maior exigência cultural no canal 2. Esta era uma evidência da existência de uma divisão social ao nivel do conhecimento e de cultura na sociedade portuguesa.

Tudo se manteve mais ou menos na mesma até à liberalização da televisão em Portugal.
Nesta altura a televisão existe na quase totalidade dos lares de Portugal assistindo-se pela primeira vez à competição pela captura da atenção dos portugueses.

(Para quem tem a ilusão de que as televisões servem para vermos filmes e reportagens, desengane-se. As televisões existem para vender publicidade, ou seja, as televisões emitirão tanta publicidade quanto a que você conseguir tolerar sem mudar de canal. As pausas são os outros programas.

O objectivo é somente o de prender a atenção do maior numero de pessoas pelo maior espaço de tempo por forma a que os anunciantes disponham de um público alvo suficientemente alargado para poderem vender os seus produtos.)


O que se assiste de seguida é a uma programação que se caracteriza pela ausência de qualquer preocupação em profundidade de temas.

No fundo a nova televisão passa a ser apenas um espelho da sociedade que temos. Pela lógica das audiências, que é a lógica do modelo de negócio das TVs privadas, tudo o que for do agrado de muitos está imediatamente sancionado.

Se se transmite apenas o que agrada a todos, então aquilo que se transmite revela o estado de maturação desses “todos”. Aqui os intelectuais falham quando exigem mais qualidade às televisões, pois estão no fundo a pedir mais qualidade aos portugueses.

(continua ....)

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