Wednesday, September 10, 2003

Notas I


(Notas de conversas com o meu avô em 1989)

A consciência do Ego implica a tomada de consciência do seu complementar o não-Ego.

Duma forma simples podemos definir o não-Ego como sendo tudo aquilo que o próprio Ego considera que lhe é exterior.

Muitas palavras encontra o Ego para designar o seu complementar: Desconhecido, Infinito, Natureza, Deus e outros que mais. Eu prefiro chamar-lhe Universo, mas é apenas um termo e nada mais.

Repara que muitas pessoas afirmam que essa entidade ou ser, tem que existir porque é ele que justifica racionalmente a sua própria existência.

São geralmente o tipo de pessoas que colocam questões como "Então quem criou isto tudo ?"; não é importante nesta fase avaliarmos a relevância desta questão porque, e torno a recordar, mais importante que saber se Deus existe é saber como surgiu na mente do homem a ideia de Deus.

Para perceberes que é verdade o que te digo (que a ideia de Deus é criada a partir da ideia de Ego), repara o que sucede a um homem quando é exposto perante a imensidão da Natureza. Quando ele sente como costuma dizer "a sua pequenez" (Ego) perante a "imensidão"(Não-Ego) que se estende a seus olhos. Daí que muitos digam que a Natureza é a face visivel de Deus.

Esta é a percepção não racional do Não-Ego.

Da noção desta separação entre o Ego e o resto do Universo, nasce uma insatisfação. Um sentimento de não estar completo, de se ser limitado. E para alguns nasce a Vontade de matar essa sede, de terminar com essa insatisfação.

E nada, mesmo nada a consegue matar a não ser uma única coisa, tornar a reunir aquilo que se separou. O Ego e o Não-Ego.

Homem e Deus.
Homem e o Universo.

(palavras, palavras, palavras...)

Repara como a totalidade das religiões definem a experiência religiosa suprema como um casamento (união de complementares), como sendo a fusão com Deus, a união com a Consciência Cósmica.

No fundo estão a referir-se ao processo através do qual a consciência de um ser humano sofre um processo de transformação em que a noção dessa separação deixa de existir.

Como a fase de desenvolvimento do homem em que ele possui este tipo de consciência é a sua infância, as religiões referem-se a este processo como um renascer ou uma ressureição.

Ambos os termos são adequados por que ambos supõem uma morte, a do Ego.

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